Os usuários do Facebook começaram esse ano preocupadíssimos. As eleições municipais viriam e encheriam as timelines de propaganda política, santinhos e promessas.

Agora, passada a votação e o turbilhão eleitoral, podemos avaliar o impacto disso na criação de Mark Zuckerberg. Para o bem e para o mal.

A primeira coisa que deve ser dita é que não aconteceu a tal invasão de lixo político prevista por muitos. Houve, sim, uma grande movimentação de candidatos a prefeito e vereador, mas nada que superasse, por exemplo, a comoção geral por uma conquista esportiva, um final de novela ou de reality show. As Olimpíadas de Londres trouxeram vitórias e fracassos brasileiros para uma excelente comparação com a movimentação eleitoral no sentido de compartilhamentos de informação na nossa timeline.

Mesmo com toda essa movimentação da política no Facebook, senti falta de um material produzido para a rede social. Em 99% das vezes, víamos a simples transformação da arte final do santinho em um JPG, que era compartilhado. Os candidatos a prefeito, com equipes e recursos maiores, produziam peças específicas, mas ficaram devendo no quesito “interação”. Também esperava ver agendas dos candidatos sendo compartilhadas, imagens diárias dos compromissos de cada um, mas isso não aconteceu. Apenas situações pontuais, de maior repercussão, eram compartilhadas.

Isso foi compreensível, desta vez, pois o Facebook ainda é, politicamente falando, um campo desconhecido e perigoso. Penso que os candidatos ficaram receosos em promover uma interação e ver o tiro sair pela culatra, com partidários dos concorrentes comentando, discutindo e provocando situações difíceis nas páginas e perfis políticos. Para evitar isso, adotaram posturas conservadoras na utilização da rede social.

Apesar de todo este receio, posso citar algumas ações positivas e negativas que vivenciamos nesta primeira eleição municipal com o apoio do cabo eleitoral digital, baseadas no conceito básico de respeito ao espaço do usuário, educação e sociabilização digital. Tivemos boas ideias, como:

1) Capas para a timeline personalizadas: Uma forma educada de demonstrar sua preferência política. Fica lá, abrindo o seu perfil, sem incomodar os outros. Os candidatos a prefeito produziram e compartilharam em suas páginas, enquanto alguns candidatos à vereador fizeram o mesmo.

2) Imagens para o avatar: Outra demonstração passiva de preferência eleitoral. Os eleitores trocaram seus avatares por imagens alusivas à campanha do candidato preferido. Houve quem avançasse um pouco mais e produzisse as ribbons (aquelas imagens que são adicionadas ao avatar, sem tirar a foto da pessoa, bem populares no Twitter).

3) Selos: Imagens quadradas, na sua maioria, com uma seta apontando para o avatar e trazendo frases do tipo “esta pessoa quer mais saúde para a cidade!” e a propaganda do candidato. Bastante utilizados pelos prefeitos, com criações compartilhadas periodicamente.

No contraponto, tivemos algumas atitudes desagradáveis, proporcionadas mais pelos seguidores do que por candidatos. Mas, os postulantes à vereança municipal também escorregaram em alguns casos, como:

1) Compartilhar propaganda eleitoral no perfil dos outros: Cada um tem direito à escolha do seu candidato. Alguns vereadores saíram compartilhando sua propaganda na timeline de todos. Cabe aqui dizer que a maioria dos usuários do Facebook desconhece ou prefere não utilizar as configurações de privacidade que evitariam esse problema. Com isso, muita gente acordou com propaganda eleitoral estranha na sua linha do tempo, o que não é agradável. Tente transpor essa situação para a vida real: você acorda e vê o portão da sua casa coberto por faixas de candidatos que você não apóia. Isso não é legal, certo?

2) Marcar pessoas na imagem compartilhada no próprio perfil: Uma variação do erro anterior, tentando ser politicamente correto. O candidato não inunda a timeline de ninguém, mas marca todo mundo na propaganda da sua linha do tempo. Errou, do mesmo jeito! Ao compartilhar algo no seu perfil, os seguidores verão e compartilharão, caso identifiquem-se com as propostas. Forçar a barra, definitivamente, não funciona.

3) Pedir votos por mensagem inbox: Sim… Isso aconteceu! Eu mesmo passei por essa situação. Você está lá, trabalhando, com seu Facebook aberto e recebe uma notificação. Ao abrir, vê um candidato puxando papo com você para pedir voto, descaradamente. “Ei, Ednei… Lembra de mim? Então… Não se esquece do meu número no dia 7…” Achei isso de péssimo gosto e educação. Muita gente usa o inbox para contatos de trabalho e não pode se dar ao luxo de fechá-lo, ficando à mercê dos oportunistas digitais.

O importante nisso tudo é que o Facebook foi percebido pelos políticos. A tendência é que esses erros sejam corrigidos, as estratégias sejam pensadas com essa mídia em vista para as próximas eleições municipais. Teremos, em 2016, novas ações e dinâmicas de interação entre os candidatos e seus simpatizantes.

Aliás, antes disso, já devemos ter novidades no relacionamento entre esses vereadores e prefeitos eleitos e o seu público digital, que, em muitos casos, trouxe votos importantes para a contagem final das urnas. O mundo mudou e a política está acompanhando esta mudança…

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