O conhecimento chegou ao status de ser o capital que movimenta a Era Pós-moderna. O homem, que o produz, tem a seu dispor a construção e os resultados deste saber, com a parceria de sofisticadas tecnologias: comunicação e sistemas de informação, Internet, tele e vídeo-conferência etc. Através delas é possível manter-se conectado de forma global em relação ao mundo e as suas incessantes informações.

Todavia, confunde-se o criador com sua criação, demonstrando que ela independe de sua origem, compreendendo-a como algo exterior. Ou seja, o conhecimento tornou-se objeto externo em razão de sua aplicabilidade objetiva para o empreendimento e, então, seu valor é bem recompensado através da troca realizada por poder, dinheiro e permanência na vida profissional, via de regra. Neste modelo de compra e venda, a detenção do conhecimento caracteriza a posse de direito de quem o obteve. Muitas pessoas sonham em ter grandes e criativas idéias para dispô-las neste mercado altamente comprador. Reduz-se a identificação da obra pelo obreiro, ainda que aparentemente, a medida em que o seu direito encontra limite na divisa da permuta negociada.

Soluções imediatistas para reter o conhecimento, este bem tão valioso, conferem-lhe a conotação que tem o dinheiro, levando muitas pessoas a guardá-lo num cofre: o banco de dados. É claro que é necessário guardar o leite em vasilha adequada, no entanto, o seu uso pertence ao fluxo que alimenta a quem tem fome, do contrário, ele azeda e tem outro destino, incluindo até a sua perda. O mesmo vale para o dinheiro que é apenas um código que é decodificado cada vez que ocorre uma demanda pertinente.

O conhecimento, por sua vez, também é parte deste sistema de utilização contínua. Mantê-lo apenas guardado é reduzir-lhe o potencial de uso gradativamente, tendo em vista a sua obsolescência. Por outro lado existe o conhecimento atemporal, aquele que se perpetua através do tempo e não envelhece. Contudo, de nada vale se não encontra acesso na relação ensino-aprendizagem, permanecendo estático em sua redoma de proteção exagerada.

É neste ponto que se encontra a necessidade de intervenção, ou melhor, de gestão do saber. Ter conhecimento é necessário, geri-lo é vital. Existem maneiras de se cuidar desta operação tão importante, que vão desde a utilização de simples conversas e reuniões, uso de e-mail, Internet e Intranet, fóruns, multiplicadores de conhecimento, até a implantação deste tipo de cultura na organização, mobilizando um universo maior de recursos para se atingir a refinada gestão em foco.

Neste caso cultural, leva-se em alta conta os stakeholders (colaboradores e fornecedores envolvidos com o empreendimento) na captação cotidiana de dados e informações que são úteis inclusive na formação do planejamento estratégico – e quem mais poderia deter as informações relacionadas à sua própria experiência profissional e intimidade com a organização?

Apesar disso, deve-se retomar o problema inicial: como restabelecer o conhecimento ao seu ponto de origem para obter o uso necessário, se ele é entendido como algo exterior e quase alheio a quem o produz? Este desafio repousa sobre a apropriação que deve ser desenvolvida como um acontecimento cultural das organizações, até se transformar em fato corrente.

A liderança tem relevância nesta empresa, ao desenvolver as competências que lhe são cruciais: a influência ao invés da imposição, a comunicação ampla e empática ao invés da ordem de mão única e da antipatia decorrente, a aprendizagem de mão dupla que educa as maneiras múltiplas de se gerar o conhecimento e utilizá-lo largamente, a tecnologia como recurso e não um fim em si mesma, a motivação intrínseca ao invés de só oferecer reforços externos e passageiros, a ética e a confiança que permeiam a relação segura e duradoura ao invés do oportunismo, o propósito compartilhado ao invés da missão ego-identificada, a mudança como processo natural e participativo e não apenas como um marco que divide aqueles que se adaptaram e os que passaram a compor a lista-negra da alta cúpula.

A gestão do conhecimento deve estar alicerçada no próprio conhecimento a respeito do ser humano e de suas necessidades naturais, pessoais e sociais. Primeiramente, cuida-se da gestão de pessoas, para em seguida ou em paralelo, cuidar de qualquer outro assunto, especialmente o conhecimento e a sua maneira mais adequada e particular de convivência.

O saber nasce do homem e é através dele, logicamente, que é possível encontrar as maneiras de se lidar com tal produção. O conhecimento fica disponível e pertence a todos e ao fluxo de sua utilização, retomando sua maior propriedade: o exercício educativo e o caráter formador. Então, ao entrar em contato com esta teia cultural do saber, e encontrando espaço para fluir, o ser humano colabora comunitariamente com esta necessidade de mercado, usando a sua maior arma: o conhecimento.